quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Capítulo 1 - AC Cruzada Secreta

19 de junho de 1257

Maffeo e eu permanecemos em Masyaf e continuaremos aqui por enquanto. Pelo menos até uma ou duas — como posso dizer? — incertezas serem resolvidas. Enquanto isso, estamos sob as ordens do Mestre, Altaïr Ibn-La’Ahad. Frustrado por ceder o domínio dos nossos destinos desse modo, principalmente para o líder da Ordem, o qual em sua idade avançada maneja a ambiguidade com a mesma precisão cruel com que outrora manejava espadas e adagas, eu pelo menos tenho o benefício de compartilhar de suas histórias. Maffeo, no entanto, não possui tal vantagem e tem ficado cada vez mais inquieto. É compreensível. Está cansado de Masyaf. Não gosta de percorrer as encostas íngremes entre a fortaleza do Assassino e a aldeia abaixo, e o terreno montanhoso é pouco atraente para ele. Maffeo diz que é um Polo, e após seis meses aqui, o desejo de viajar é como o chamado de uma mulher cheia de curvas: persuasivo e tentador demais para ser ignorado. Ele anseia por estufar as velas e partir para novas terras, deixando Masyaf para trás.
Falando muito francamente, sua impaciência é um tormento sem o qual posso viver. Altaïr está à beira de fazer um pronunciamento. Posso sentir isso.
Então, hoje declarei: — Maffeo, vou te contar uma história.
Que modos os desse homem. Somos realmente parentes?, pergunto a você. Eu começo a duvidar. Pois, em vez de receber essa notícia com um entusiasmo que claramente se justificaria, poderia jurar que o ouvi bufar (ou talvez deva acreditar que ele podia simplesmente estar sem ar por causa do sol quente), antes de me pedir em um tom bastante exasperado: — Antes que me conte, Niccolò, você se importaria em me dizer do que se trata?
No entanto, continuei: — Essa é uma boa pergunta, irmão — respondi, e pensei um pouco sobre o assunto enquanto seguíamos nosso caminho, subindo pela terrível encosta.
Acima de nós a cidadela pairava sombriamente no promontório, como se tivesse sido talhada no próprio calcário. Eu tinha decidido que queria o cenário perfeito para contar minha história, e não havia lugar mais apropriado do que a fortaleza de Masyaf. Um castelo imponente com muitas torres e cercado por rios reluzentes, que ocupava uma posição de destaque diante da movimentada aldeia abaixo, o assentamento em um ponto alto dentro do Vale do Orontes. Um oásis de paz. Um paraíso.
— Eu diria que é sobre conhecimento — decidi finalmente. — Assasseen, como sabe,
representa “guardião” em árabe; os Assassinos são os guardiães dos segredos, e os segredos que guardam são de conhecimento, portanto, sim... — Sem dúvida pareci muito satisfeito comigo mesmo — É sobre conhecimento.
— Então receio ter um compromisso.
— Ah?
— Eu com certeza acolheria muito bem uma distração dos meus estudos, Niccolò. Mas não desejo um aumento deles.
Sorri.
— Certamente quer ouvir as histórias que me foram contadas pelo Mestre.
— Isso depende. O seu discurso faz com que elas soem menos do que interessantes. Sabe quando você diz que tenho tendência a gostar mais de crueldade nas histórias que você me conta?
— Sim.
Maffeo deu um meio sorriso.
— Bom, tem razão, tendo mesmo.
— Então terá isso também. Afinal, são os relatos do grande Altaïr Ibn-La’Ahad. Essa é a história da vida dele, irmão. Acredite em mim, não vão faltar acontecimentos, e muitos deles, você ficará feliz em perceber, têm derramamento de sangue.
Agora tínhamos subido o antemuro para a parte externa da fortaleza. Passamos por baixo da arcada e atravessamos o posto de guarda, subindo novamente ao irmos em direção ao castelo no interior. Adiante de nós estava a torre na qual ficava os aposentos de Altaïr. Por semanas eu o visitei ali e passei incontáveis horas ao seu lado, extasiado, enquanto ele se sentava com as mãos entrelaçadas e os cotovelos sobre os braços da cadeira alta contando suas histórias, com os velhos olhos mal podendo ser vistos sob o capuz. E cada vez mais me dava conta de que aquelas histórias estavam sendo contadas para mim com um propósito. Que, por algum motivo, ainda incompreensível para mim, eu fora escolhido para ouvi-las.
Quando não contava as histórias, Altaïr refletia entre livros e lembranças, às vezes olhando fixamente por longas horas para fora da janela da sua torre. Ele agora devia estar lá, pensei, e enganchei o polegar sob a faixa do meu gorro, o puxando de volta e sombreando os olhos para enxergar a torre acima, não vendo nada além da pedra descorada pelo sol.
— Temos uma audiência com ele? — Maffeo interrompeu meus pensamentos.
— Não, hoje não — respondi, apontando então para uma torre à nossa direita. —Vamos lá para cima...
Maffeo franziu a testa. A torre de defesa era uma das mais altas da cidadela, e era alcançada por uma série de vertiginosas escadas, muitas das quais parecendo precisar de reparos. Mas eu era insistente e enfiei a túnica no cinto, conduzindo em seguida Maffeo acima para o primeiro nível, depois para o seguinte e finalmente ao topo. De lá avistamos toda a zona rural. Quilômetros e quilômetros de terreno escarpado. Rios como veias. Agrupamentos de povoados. Olhamos para Masyaf: da fortaleza para as edificações e os mercados da vasta aldeia lá embaixo, a paliçada de madeira da defesa externa e do estábulo.
— O quão alto estamos? — perguntou Maffeo, parecendo um pouco nauseado, sem dúvida consciente de estar sendo esmurrado pelo vento e de que agora o chão parecia muito, muito distante.
— Uns oitenta metros — respondi. — Alto o bastante para deixar os Assassinos fora do alcance de arqueiros inimigos... mas o bastante também para permitir que façam chover flechas e muito mais sobre eles. Mostrei a ele as aberturas que nos cercavam por todos os lados.
— Daqui, dos balestreiros, eles poderiam jogar pedras ou óleo sobre o inimigo, usando estas... — Plataformas de madeira se projetavam para fora e nos movíamos agora por uma delas segurando em apoios verticais de ambos os lados e nos inclinando para olhar para baixo. Diretamente sob nós, a torre precipitava-se na borda do despenhadeiro. Ainda mais abaixo, estava o rio reluzente.
Com o sangue sendo drenado do rosto, Maffeo recuou para a segurança do chão da torre. Eu ri, fazendo o mesmo (e no íntimo contente por fazer isso, já que eu mesmo me sentia um pouco tonto e enjoado, verdade seja dita).
— E por que você nos trouxe até aqui? — perguntou Maffeo.
— É onde minha história começa — falei. — De mais de um jeito. Pois foi daqui que o vigia viu a força invasora pela primeira vez.
— Força invasora?
— Sim. O exército de Salah Al’din, também conhecido como Saladino. Ele veio fazer o cerco a Masyaf, para derrotar os Assassinos. Oitenta anos atrás, em um dia claro de agosto. Um dia muito parecido com o de hoje...

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